terça-feira, 21 de outubro de 2008

E agora?


E agora José? Passado os afãs da campanha, o que acontece com o movimento gay campineiro?

Dos outros grupos, não posso falar. Só sei que rola um certo rancor ainda e que alguns ainda lambem as feridas da eleição. Normal.

Mas o E-JOVEM já sabe muito bem o que vai fazer. Além de trabalhar no seu fortelecimento institucional, vai também iniciar dois projetos pioneiros que deve reorganizar o grupo em Campinas e os grupos todos do Estado de SP.

Por aqui, a idéia é retomar as reuniões semanais a partir de novembro e publicar um fanzine a cada 2 meses, dando conta da vida LGBTeen de Campinas. Os adolescentes gays da cidade estão cada vez mais abandonados à própria sorte e isso não pode continuar. Vamos também reforçar nossas parcerias com a prefeitura e ver o que podemos fazer junto com o re-eleito Dr. Hélio.

E temos que já ir pensando na Parada de 2009, agora que não tem mais Fórum...

Em nível estadual, vamos organizar reuniões de militantes jovens gays de várias cidades de SP uma vez por mês aqui em Campinas. Uma espécie de Fórum Paulista Mirim. Vai ser legal pra integrar os grupos de SP e dar um gás no movimento de juventude GLBT de outros grupos. Essa idéia dando certo, vamos expandir para outros estados. Vai ser legal!

Bom, essa semana o Chesller (presidente do E-JOVEM) tem uma reunião com o Centro de Referência LGBT, pra cobrar o apoio da prefeitura às propostas (apoio esse que o prefeito já deu, na campanha - uma de nossas grandes vitórias). Vamos ver o que sai.

É o novo movimento gay de Campinas surgindo das cinzas!

Beijo do Deco =]

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vitória gay em Campinas!

Por que devemos nos orgulhar do resultado das urnas

Deco Ribeiro*

Domingo à noite. Depois de passar o dia acompanhando as votações em Campinas, brigávamos com os sites oficiais da justiça eleitoral, todos fora do ar, em busca dos resultados. Os portais de notícias foram mais prestativos - mas as notícias em si, nada animadoras. Deco Ribeiro, 1 voto. Deco Ribeiro, 4 votos. Deco Ribeiro, 48 votos. Um pinga-pinga angustiante, que quase enfarta o meu marido.

Passava dos 70% de votos apurados e meus votos estavam em 89. "É, não foi dessa vez," falei, finalmente. Como se fosse uma senha, foram todos desmontando o acampamento e partindo para suas casas. Fui dormir antes do final torcendo para, pelo menos, chegar aos 100.

Os 95
Mas foram 95.

É curioso como todo candidato espera vencer, como afirmou o Sander, de Alfenas (MG), um dos quatro LGBT eleitos em todo o Brasil. Eu também acreditava. Não tinha por que não acreditar. Afinal, Campinas tinha acabado de sediar uma Parada de 100 mil pessoas e tem boates que lotam com mil, duas mil pessoas por noite. Eu sou um nome conhecido e tínhamos mais de 100 mil santinhos, panfletos e adesivos. Na pior das contas teríamos 2 mil votos.

Mas foram 95.

No primeiro momento, claro, o baque é puramente emocional. 100 mil na Parada! Mais de mil na boate!! Custava esse povo votar??

Essa revolta logo passou. Eu entendo que culpar os gays não é o certo. Se muitos gays não votam em um candidato asumidamente gay, eles não o fazem à toa. Há um motivo por detrás, mais estrutural - que nós, socialistas, sabemos muito bem reconhecer.

Eu acredito tanto nisso que fiz uma campanha radicalmente militante, estampando em meu material que "Libertação gay é socialismo" e que era preciso derrubar as velhas instituições para construir outras, verdadeiramente democráticas. Uma campanha política bem gay, mas bem séria.

E aí veio o estalo.

Manifestação política x manifestação festiva
Eu arrisquei muito fazendo uma campanha exclusivamente LGBT e num tom sério demais, militante demais. Racional demais. Esse discurso não atinge o público que eu esperava atingir - e eu, como militante, já devia saber disso.

Afinal, desde quando uma manifestação política séria atrai o público LGBT? Nós, militantes, somos meio tontos, às vezes. Vemos 3 milhões ou 100 mil nas Paradas e nos imaginamos surfando nessa onda - mas no primeiro protesto contra a homofobia ou em alguma atividade séria do movimento, quantos aparecem?

No protesto contra a vinda do papa, na Praça da República (SP), quantos apareceram? 50 pessoas? Na manifestação das cruzes, durante a Conferência LGBT de Brasília, que lembrou os assassinados pela homofobia, quantos foram? 20 pessoas! E olha que toda a militância nacional estava a poucos metros do locall!!

A gente sempre reclama, sempre chora as pitangas depois, sempre dispara brados contra a alienação do povo - mas continuamos a dar murros na ponta da mesma faca sem conseguirmos ser compreendidos pela nossa comunidade.

Em Campinas não é diferente. Tirando a Parada, nenhuma das manifestações organizadas pelo movimento na cidade nos últimos dois anos atraiu mais de 50 pessoas. Talvez a Manifestação Sáfica, uma festa lésbica que ocorre na véspera da Parada, em uma praça que já é cheia, com ou sem evento, e tem muita música e shows, ainda que entrecortados por discursos militantes. Mas a Parada e a Manifestação Sáfica, embora tenham cunho político, são manifestações festivas. Fora isso, o que temos?

Ato contra preconceito sofrido por duas lésbicas numa sorveteria = 50 pessoas (08/04/06)

Ato contra discriminação de lésbica em empresa = 30 pessoas (12/12/06)

Ato pelo Dia de Luta Contra a Homofobia, com casamento lésbico na frente da Catedral = 50 pessoas (17/05/08)

Ato na Catedral contra morte de travesti = 60 pessoas (23/02/08)

Gincana da Diversidade no Parque do Taquaral, abertura do Mês da Diversidade = 50 pessoas, apesar do tom festivo (01/06/08)

Reuniões do extinto Fórum GLTTB de Campinas = quando muito, 20 pessoas

E minha campanha, que culminou na maior das manifestações políticas, o voto, conseguiu a façanha de mobilizar 95 pessoas!

No final das contas, uma vitória!!

O futuro nos pertence
Meu grande amigo Agildo foi o primeiro camarada do Partido a me dar os parabéns. "Estamos apenas no início da nossa jornada," ele disse. Isso me lembrou que entrei no Partido, num primeiro momento, não para sair candidato. A idéia era construir pontes: levantar a questão LGBT no meio político e trazer mais política para o meio LGBT.

Menos festa e mais política? Foram uma verdadeira luta esses três meses de campanha. Só que, como diz a UJS, se o presente é de luta, o futuro nos pertence.

Eu explico:

Minha votação mostrou uma comunidade que ainda não descobriu o voto como possibilidade de mudança. Ou seja, existe TODO um espaço a ser disputado. E disputa é a palavra certa - até campanha contra de militantes LGBT eu tive de enfrentar! Mas conseguimos 95 votos!! A maior manifestação política de LGBTs em Campinas nos últimos anos!

Mesmo não tendo sido eleito, contribuímos para a visibilidade GLBT - foram dezenas de milhares de santinhos, panfletos etc. Levamos a bandeira do arco-íris pra fazer campanha nas ruas, em panfletagens e caminhadas. Saímos com carro de som pelos bairros exortando o povo a votar contra a homofobia. Muita gente que não votou, pelo menos soube que os gays estavam na área e quais são nossas propostas. Ainda que isso tenha assustado alguns e ofendido outros, ficou bem claro que os gays também estão na política.

Tivemos a possibilidade de conversar com o prefeito (que foi reeleito) em várias ocasiões e nos mostrar enquanto gays, lésbicas, bissexuais, travestis, drag queens. Ele assinou um termo se comprometendo com nossa luta e com nossas propostas. Além disso, nosso vereador foi reeleito e com certeza nos ajudará a fiscalizar se o prefeito irá cumpri-las - principalmente por ser o atual líder do governo na Câmara.

E pra fiscalizar tanto o prefeito quando a Câmara, voltamos ao nosso trabalho de movimento social, agora muito mais conscientes do processo político e determinados a construir mais essa alternativa de combate à homofobia.

Se em três meses alcançamos isso tudo e ainda conseguimos ampliar o universo político LGBT de Campinas de 50 para 95, é sinal de que é possível falar de coisas sérias com a comunidade. Vamos em frente com a revolução!

Vamos estimular a comunidade a pleitear mais segurança e espaços de lazer, melhor atendimento público a jovens LGBT, mais respeito nas escolas, uma saúde decente... Vamos apoiar, formar e capacitar jovens militantes. Publicar fanzines. Criar grêmios gays nas escolas. Fazer matinês GLS. Filmar documentários. Todos estes são projetos nos quais estaremos envolvidos ainda este ano.

Como diria o Calvin, há todo um mundo mágico lá fora, Haroldo amigão, cheio de possibilidades. Vamos explorá-lo!!
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*Deco Ribeiro foi candidato a vereador pelo PCdoB nas últimas eleições.